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A crise hídrica mais severa e suas oportunidades

Atualizado: 13 de jun. de 2021


José Everaldo Vanzo - Engenheiro CIvil e Sanitarista pela Escola de Engenharia de São Carlos

Atuou como gerente da Superintendência Regional de Franca, Diretoria de Sistemas Regionais e Diretoria Técnica da Sabesp (1977-2007, diretor presidente da FABHAT- 2008-2009, diretor presidente da Águas do Amazonas - 2009-2010 e Pró-reitor administrativo e financeiro da UNIFEB 92016-2020



Estamos entrando na pior fase de um processo de estiagem, que vem se agravando há cerca de quatro anos. Órgãos especializados como a ANA,SNM e CEMADEN alertam que os Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás terão tempos difíceis neste ano de 2021 e classificam o período de severo em decorrência de uma escassez hídrica nunca vista, até então.


Sem chuvas e com demandas de águas doces para agricultura, geração de energia e abastecimento das cidades, o cenário geral é péssimo e pior fica porque vem se somar aos efeitos danosos da pandemia que grassa célere por falta de gestão competente.


Acontecerá o mesmo com esta longa estiagem classificada como a mais severa dos últimos 111 anos?


Quem dará a resposta é a qualidade da Gestão Estratégica que será formada. Se for igual à da pandemia, será um novo desastre econômico, social, político e de desenvolvimento humano e ambiental.


Sem água a agricultura destes cinco Estados ficará fortemente prejudicada, pois é sabido, grosso modo, que entre 60% a 70 % da água doce de uma Bacia Hidrográfica é utilizada para fins agrícolas, 20% para suas indústrias e 10% para o abastecimento das cidades na forma de água potável e afastamento e transporte dos dejetos pelas redes coletoras de esgotos.


Estes cinco Estados respondem por 50% do PIB brasileiro e para sustentar a geração de tanta riqueza o principal insumo é a água doce, que está escassa como nunca houve antes. Sem ela, a geração de energia hidrelétrica fica prejudicada e as plantações extensivas de grãos fica abalada.



Em breve síntese: não haverá disponibilidade hídrica para tanta demanda porque o ciclo hidrológico está alterado.


E por que se alterou tão drasticamente?


Alguns especialistas em Meteorologia atribuem esta crise à conjunção de dois fenômenos naturais. A La Niña e a Oscilação Antártica (AO). Outros ponderam que isto não explica tudo, pois eles já estiveram juntos em outros momentos e o resultado não foi tão severo como agora, e apontam para as mudanças climáticas em curso em todo o planeta, provocadas pela emissão excessiva e descontrolada de gás carbônico.


Regionalmente, cabe destacar efeito negativo do desmatamento da floresta amazônica, incentivado pela grilagem de terras e roubo de madeira, que agrava o que já está ruim.


E sem disponibilidade hídrica não é só o desenvolvimento econômico e social que é afetado, são, também, os ecossistemas e a qualidade de vida das populações.


É claro que o habitante destes cinco Estados está dentro de uma grande e histórica crise de escassez de água doce e isso pode sensibilizar os governantes e as boas cabeças dos outros dois poderes a buscarem soluções definitivas e adequadas. Os bons governos existem para isso, enfrentar e vencer os problemas difíceis e complexos.


São Paulo, que responde por 35% do PIB e tem, em condições normais, apenas 6% da água doce do Brasil, agravado continuadamente pelo fato de ter apenas 12% do seu território de matas nativas, contendo 21% da população brasileira, será, entre os cinco, o mais afetado.


Soou a hora de se fazer uma grande mesa composta pelas melhores cabeças em Gestão de Recursos Hídricos, Saneamento, Ambiente, Uso e ocupação do solo urbano-rural, Desenvolvimento Econômico-Social, P&D, Papel do Estado e Governança, estabelecendo Política Pública de Integração das demais Políticas envolvidas nessa crise.


Dessa mesa de notáveis sairão, também, as providências mitigadoras de curto prazo como o acionamento de usinas térmicas, expansão das eólicas e solares, restrição da navegação fluvial, incentivo à irrigação de gotejamento e outras, de modo a recuperar os níveis seguros dos reservatórios das hidrelétricas, carro chefe da matriz energética do país.


Da minha janela enxergo oportunidades para: o reuso (planejado ou não) dos esgotos, novos reservatórios para uso múltiplo, planejamento Integrado das macro metrópoles com a garantia de disponibilidade hídrica, importância dos Comitês das Bacias Hidrográficas e seus braços executivos na forma de Agências de Bacias.


Mas não só, cidades feitas para as pessoas, com oportunidades locais de trabalho e crescimento profissional, cultural, artístico, ético, político (no sentido grego da palavra) e tudo que possa assegurar o desenvolvimento sustentado e a qualidade da vida humana, da flora e fauna.



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